Ele fala sobre sua escrita,
seu modo de pensar e de como se tornou um menino arteiro
(Foto: Peter de Brito) |
Com um ótimo senso de humor, Gil escreve contos e fábulas para o público infanto-juvenil, e tem conseguido conquistar seus leitores e ganhar espaço no mercado.
Aqui segue uma entrevista concedida por ele aos alunos do Ensino Médio da E.E. Profª Ephigênia Cardoso Machado Fortunato.
Ler é da hora: O que o motivou a se tornar um
escritor?
Gil Veloso: O primeiro
livro que escrevi, Fábulas Farsas, foi totalmente -ou felinamente- motivado
influenciado por um gatinho siamês que tive chamado Bertrand. O livro se fez
por causa dele; eu começava a escrever ele vinha e deitava em cima da folha
e atrapalhava-incentivava ao mesmo tempo. Sabe aquele tipo de bloqueio
acompanhado de uma espécie de provocação, como se questionasse: tem certeza de
que quer mesmo escrever? Não tem coisa mais interessante pra fazer, tipo
brincar comigo, agora...?
Depois de um ano, quando terminei o livro, ele gato sumiu misteriosamente... Fiquei muito triste, a maior tristeza que eu sentira até então.
O livro era até dedicado pra ele, que me abandonou ou sei lá o que aconteceu com a criatura; o fato é que não apareceu nem na noite do lançamento.
Depois alguns amigos leram o texto e disseram Publique e aquelas coisas todas que amigos dizem, vocês sabem.
Depois de um ano, quando terminei o livro, ele gato sumiu misteriosamente... Fiquei muito triste, a maior tristeza que eu sentira até então.
O livro era até dedicado pra ele, que me abandonou ou sei lá o que aconteceu com a criatura; o fato é que não apareceu nem na noite do lançamento.
Depois alguns amigos leram o texto e disseram Publique e aquelas coisas todas que amigos dizem, vocês sabem.
Ler é da hora: Você recebeu apoio de alguém
para se tornar escritor?
Gil Veloso: Não. Tirando o incentivo do Bertrand e dos
amigos, não recebi apoio de ninguém; quer dizer, recebi apoio do ProAc da
Secretaria de Cultura por conta de um edital que eles têm e incentivam
publicação.
Para escrever eu me apoio mesmo é na mesa e no lápis; e quando escorrego uso a borracha pra levantar e continuar. Depois é com a editora que me apoia sempre publicando etc.
Para escrever eu me apoio mesmo é na mesa e no lápis; e quando escorrego uso a borracha pra levantar e continuar. Depois é com a editora que me apoia sempre publicando etc.
Ler é da hora: As histórias que você escreve,
são inspiradas em situações que você viveu?
Gil Veloso: Acho que não há inspiração em coisas que vivi.
Talvez uma situação ou outra tenha influenciado, mas em geral, não. São
totalmente inventadas e vividas apenas no momento da criação.
Ler é da hora: Você encontra dificuldade para
publicar algum gênero em específico? Qual?
Gil Veloso: Não, nunca tive dificuldade alguma com gênero
nenhum.
Ler é da hora: Qual das suas histórias você
mais gostou?
Gil Veloso: Gosto de alguns contos dos dois primeiros
livros, Fábulas e Travessuras, coisas poéticas e algumas situações engraçadas
que lá estão. O que não significa que não tenha me encantado com a Pedrita de A
pedra encantada e desgoste dos demais; livros acabam se tornando filhos e nos
tornamos mãe-coruja gostando deles do jeito que são, arteiros ou não.
Ler é da hora: Qual o seu autor favorito? Em
qual autor você se inspira?
Gil Veloso: Não me inspiro em autor nenhum.
Tampouco tenho O favorito; gosto bastante da Clarice Lispector e do Guimarães Rosa; de poetas como Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Drummond, Murilo Mendes e Hilda Hilst. E também dos poetas místicos cristãos João da Cruz e Santa Teresa De Ávila.
Miguilim, do Guimarães Rosa, O apanhador no campo de centeio, do J. D. Sallinger e livros como Sidarta e Demian do Hermann Hesse acho deslumbrantes.
Tampouco tenho O favorito; gosto bastante da Clarice Lispector e do Guimarães Rosa; de poetas como Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Drummond, Murilo Mendes e Hilda Hilst. E também dos poetas místicos cristãos João da Cruz e Santa Teresa De Ávila.
Miguilim, do Guimarães Rosa, O apanhador no campo de centeio, do J. D. Sallinger e livros como Sidarta e Demian do Hermann Hesse acho deslumbrantes.
Ler é da hora: Qual seu livro predileto?
Gil Veloso: O dicionário. Gosto mais das palavras que das
histórias e dos fatos; e o dicionário contém todas elas pra que se escrevam as
histórias todas. Mas se disserem que dicionário não vale então direi que é o
Tao te Ching, do Lao Tsé, um sábio chinês.
É chamado O livro do caminho perfeito, por conter as palavras perfeitas. E também o Baghavad Gita, que significa A canção do Senhor, uma espécie de bíblia hindu, ou seja, uma escritura sagrada da Índia. O Raul Seixas tem até uma música com esse nome, dele e do Paulo Coelho, chama-se Gita -Lê-se Guita-. Começa assim: As vezes você me pergunta por que é que sou tão calado...
É chamado O livro do caminho perfeito, por conter as palavras perfeitas. E também o Baghavad Gita, que significa A canção do Senhor, uma espécie de bíblia hindu, ou seja, uma escritura sagrada da Índia. O Raul Seixas tem até uma música com esse nome, dele e do Paulo Coelho, chama-se Gita -Lê-se Guita-. Começa assim: As vezes você me pergunta por que é que sou tão calado...
Ler é da hora: De onde você tirou inspiração
para escrever o livro “O menino arteiro”?
Gil Veloso: O menino arteiro nasceu pra eu exibir uma
porção de graças e brincadeiras que tinha na cabeça; e também para homenagear o
Guto Lacaz, que fez as artes do livro.
Ler é da hora: Como se sentiu ao término do
livro?
Gil Veloso: Não senti nada. Claro que devo ter sentido
algo, mas nada tão importante assim. Afinal quando se escreve o objetivo é
chegar ao ponto final; a gente tenta esquecer e se distrair, como numa viagem
onde é preciso aproveitar o trajeto, que pode ser mais interessante que o
destino em si; mais ou menos como a nossa vida, não? A gente faz de conta que
não sabe que um dia vai morrer e segue vivendo distraidamente... Acho que só em
As mil e uma noites a princesa Sheherazade não queria chegar ao fim, uma
contadora de histórias sem pressa de acabar, já que o fim lá significava
morrer. De certo modo morremos mesmo. E depois renascemos...
Voltando ao texto, é sempre um alívio quando termina, tipo quando fazemos xixi depois de estar um bocado apertado... vocês sabem.
Voltando ao texto, é sempre um alívio quando termina, tipo quando fazemos xixi depois de estar um bocado apertado... vocês sabem.
Ler é da hora: Você sempre gostou de escrever?
Escrevia umas coisas quando adolescente e também gostava de ler, mas sempre gostei mais de música, cantava e tocava violão. Ainda hoje escrevo canções.
E gosto de visitar igrejas e cemitérios, de preferência sem missas e velórios.
Ler é da hora: O que você gostava de fazer
quando era criança?
Gil Veloso: Gostava de imitar coisas que assistia nos
circos que passavam em São Jorge do Oeste, onde morei no interior do Paraná; o
circo sempre foi minha maior paixão, queria ir embora, fugir com eles; gostava
também dos ciganos. Gostava de jogar bola todas as tardes e também
de jogar bolinha de gude, dizíamos jogar bulica. E de brincar de escorregar em
estrada de terra nos dias de chuva, deslizando até cair no barro...
Ler é da hora: A sua matéria escolar preferida
era Língua Portuguesa?
Gil Veloso: Gostava de português, sim, era bom de redação.
Sempre detestei matemática, ainda hoje sonho que é dia de prova e não sei nada,
acordo assustado.
Ler é da hora: Quando você era criança, já se
imaginava escritor?
Gil Veloso: Nunca me imaginei escritor, queria ser
compositor, artista de circo, trapezista. Nem mesmo hoje me considero escritor,
isso eu já queria ter dito na resposta à primeira pergunta lá em cima, mas me
segurei e agora acabei falando. Ai, que alívio! O mesmo alívio da resposta
à pergunta sobre como me senti ao término do livro.
Ler é da hora: Quando era criança, você era
peralta?
Gil Veloso: Acho que criança nunca se acha peralta, quem
acha são os adultos. Então não sei se era ou não; se um dia entrevistarem minha
mãe ou meu pai eles saberão dizer.
Ler é da hora: Qual conselho você daria para um
jovem que quer ser escritor?
Gil Veloso: Puxa vida! Esta pergunta se pudesse eu pulava,
não sou bom pra dar conselhos. Sou mais ou menos como o gato Bertrand,
incentivo e bloqueio ao mesmo tempo, é assim que costumo agir, mesmo comigo
mesmo.
Escritores comumente receitam ler e estudar intensamente etc. Pode até ajudar, mas penso que não se aprende apenas vendo, analisando... do mesmo modo que ninguém aprende a jogar bola assistindo a jogos; poderá até se tornar um técnico ou juiz, mas nunca será um Neymar. Claro que facilita se tiver vocação, dom pra observar coisas da vida, sentimentos, limitações e solidão existencial da pobre alma humana...
Mas vamos lá: direi o que eu diria com relação a qualquer coisa que quisesse ser, carteiro, motorista de ônibus, jogador de futebol... Quer ser, então seja! Bons gols pra você.
Escritores comumente receitam ler e estudar intensamente etc. Pode até ajudar, mas penso que não se aprende apenas vendo, analisando... do mesmo modo que ninguém aprende a jogar bola assistindo a jogos; poderá até se tornar um técnico ou juiz, mas nunca será um Neymar. Claro que facilita se tiver vocação, dom pra observar coisas da vida, sentimentos, limitações e solidão existencial da pobre alma humana...
Mas vamos lá: direi o que eu diria com relação a qualquer coisa que quisesse ser, carteiro, motorista de ônibus, jogador de futebol... Quer ser, então seja! Bons gols pra você.
Ler é da hora: Temos uns amigos escritores,
gostaríamos que lesse seus textos (poemas, narrativas, artigo de opinião) na
página http://emminhaopiniao-meire.blogspot.com e fizesse um comentário sobre os textos
deles.
Gil Veloso: Prometo entrar na página e apreciar tudo e
comentar algo, até lá então.
Ler é da hora: Para encerrar, a última
curiosidade da turma, você tem parentesco com Caetano Veloso?
Gil Veloso: Nenhum parentesco, mas o admiro demais e mais
ainda a sua mãe, Dona Canô que já completou 103 anos, benza Deus!
Meu nome todo da silva é Gilmar França Veloso. Gil Veloso foi o escritor Caio Fernando Abreu que assim me batizou por conta dos baianos Gilberto Gil e Caetano Veloso, o filho da Dona Canô, que infelizmente não é meu parente.
Meu nome todo da silva é Gilmar França Veloso. Gil Veloso foi o escritor Caio Fernando Abreu que assim me batizou por conta dos baianos Gilberto Gil e Caetano Veloso, o filho da Dona Canô, que infelizmente não é meu parente.